O FASCÍNIO PELO FIM DO MUNDO
Angela Joenck
"Psicólogos explicam o fascínio pelas teorias do fim do
mundo
31 de outubro de 2010 • 14h10
Mesmo que todas tenham falhado até agora, teorias apocalípticas sempre
despertam interesse de muitas pessoas.
De tempos em tempos, algum boato sobre o fim do mundo gera polêmica e
pânico entre as pessoas. Geralmente provocadas por antigas previsões,
como no caso de Nostradamus, e propaladas pela internet e outras mídias,
as teorias não faltam.
"Pessoas gostam da ideia de ter um plano", diz o escocês Rob Hannah,
graduado em psicologia pela Open University. "A mortalidade é algo
difícil de se aceitar e o fato de que o acaso interfira nas nossas vidas
é mais assustador ainda. Quando alguém dá uma data para isso acontecer,
isso nos dá um falso senso de segurança".
Para ele, o ser humano precisa se sentir parte de algo maior, e, em
alguns casos, dados da ciência indicando que o fim do mundo não está
próximo, mas acontecerá em bilhões de anos, não satisfazem. "Isso
significa que você morre e o mundo continua, e as pessoas não aceitam
que não estarão aqui. É como dizer que, se temos que desaparecer, vamos
desaparecer todos juntos", ponderou.
2012 e as catástrofes
A última onda foi a das previsões apocalípticas relacionadas ao ano de
2012. O burburinho em torno do fim dos tempos chegou ao seu auge com o
lançamento do filme dirigido por Roland Emmerich, mostrando tragédias
como a cidade de Los Angeles caindo no oceano e ondas gigantes varrendo
o Himalaia.
Na obra de Emmerich, o alinhamento entre o Sol e o centro da galáxia, no
dia 21 de dezembro de 2012, faz com que o astro saia do controle e lance
na superfície da Terra partículas conhecidas como neutrinos, que aquecem
o centro da Terra. Já outra linha de alarmistas indica que o ano de 2012
marcará a colisão de um planeta chamado Nibiru com a Terra, e que o
campo magnético do nosso planeta sairá do controle.
Todas as teorias, porem, já foram refutadas por órgãos especializados,
como a Nasa, que chegou a criticar a Sony Pictures por sugerir em sua
campanha publicitária que o mundo acabaria nesta data. Mesmo assim, o
assunto já é tema de diversos livros. Se "2012" e "fim do mundo" forem
digitadas no Google, cerca de 1 milhão de páginas são encontradas.
A escolha do ano não teria surgido ao acaso: seria baseada em cálculos
do calendário Maia. Porém os principais historiadores do assunto afirmam
que previsões de morte iminente não são encontradas em nenhum dos
clássicos códigos maia e que a ideia de que o calendário terminaria em
2012 deturpa a história de um povo que foi notável não somente pelo
desenvolvimento da lingual escrita, como também pela sua arte,
arquitetura, matemática e sistemas astronômicos.
Religião
O psicólogo paranaense Márcio Roberto Regis, responsável pela publicação
AtlasPsico, lembra que diversas crenças prometem uma pós-vida melhor aos
seus praticantes, o que justificaria a suscetibilidade de alguns
indivíduos a crer em teorias apocalípticas. "Se alguém vive uma vida
difícil neste momento, pode ver o fim do mundo como uma chance de
mudança, o que pode gerar inclusive casos de suicídio", disse.
"O que as pessoas tem que se dar conta é que precisam viver a vida
agora, e mudar o que é preciso nesta vida, ao invés de esperar por uma
outra", diz o brasileiro. Já Rob Hannah coloca uma contradição na
relação da religião e da morte questionando a questão da pena capital:
"Se o fim da vida, como a conhecemos, dá a chance da absolvição e
redenção, por que a maioria das pessoas religiosas seria contra a pena
de morte? E como encarar a questão dos homens-bomba? O assunto é um poço
de contradições", concluiu.
Mídia
Tanto Hannah quanto Regis concordam em um ponto: segundo eles, a mídia
extrapola na importância que dá a teorias do fim do mundo. "Desastres
sempre existiram, o que não existia era o acesso gigantesco à
informação, como temos hoje", diz o psicólogo paranaense. De acordo
com ele, veículos de massa podem ao mesmo tempo
alarmar sobre o excesso de poluentes no ar e vender automóveis em seus
comerciais, o que em teoria seria um conflito.
"Nos avisam que somos culpados pela poluição, mas
quando vai para o comercial, tentam nos vender o carro", coloca
Regis, que lembra que crianças podem ser bastante vulneráveis ao pânico
gerado por notícias que anunciem catástrofes iminentes. "Sempre teremos
alguém iniciando um boato ou criando uma teoria. É normal. O que os pais
precisam fazer é gerar senso critico nos seus filhos. Fazer com que
sempre questionem o que leem, ouvem ou assistem", completou.
(http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias/0,,OI4763183-EI238,00-Psicologos+explicam+o+fascinio+pelas+teorias+do+fim+do+mundo.html)